Porque é São João a cidade está vazia, fantasma, sem gente nem carros passando. Uma melancolia que parecia de viagem e vendo o lugar resolveu ficar. Polianas nascidas para anunciar o bem das coisas dizem que pelo menos assim não há engarrafamentos. Mas é isso consolo que baste? É não.
Quando era pequena e chegava a época de fazer bandeirolas para enfeitar a escola já era o princípio da alegria. Recortar no molde para ficar bem direitinha e juntar papeis de várias cores para ser bem colorida. Até hoje quando vejo uma na rua me dá um calor no coração.
E depois vinha o ensaio para a apresentação, que se ficasse bem bonita podia até ser mostrada na praça, e aí a gente treinava todos as tardes mas era tão difícil que tantos meninos ao mesmo tempo entendessem como se trança um pau de fita.
Em casa era uma consumição para armar logo a fogueira e tinha que ficar de longe na hora de acender por causa do perigo, mas quem podia obedecer, e depois precisava chamar alguém grande para fazer viver a chuvinha e a cobrinha e o vulcão, só o traque não tinha plano nenhum de segurança.
Por piedade, vamos pular o capítulo das comidas típidas, mas peço licença para duas palavras, apenas: Amendoim. Cozido.
De noite fazia frio até no lugar mais quente, o que era já um milagre, e a cidade transformada em arraial parecia toda de brinquedo. Era tempo que os pequenos podiam ir para festa e dormir até mais tarde, tudo por ser noite de São João, o céu todo estrelado, pintadinho de balão. Meu caso não seria nem de pedir para não estar trabalhando, embora já fosse de alguma valia. Mas sendo o santo forte e havendo uma simpatia, o que eu gostaria mesmo era de ser essa época e eu estar criança de novo, porque a vida tem essa forma de as coisas serem tão melhores antes.
Tatiana Mendonça escreve às sextas
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