Ele tinha quinze anos e discutia os temas econômicos e políticos de igual para igual com qualquer adulto.
Com seus pais, era quem indicava em quem deveriam votar – liderava as discussões de almoço com os velhos.
Tinha bem claro o que pensava.
Chegou aos dezessete já matriculado na Universidade e com suas convicções políticas muito bem definidas.
Aos 21, estava graduado e bem posicionado na empresa onde trabalhava.
Não tinha medo de nada!
Viajou, conheceu o que os seus amigos chamam de ‘mundo’ e encontrou Sofia.
Cresceu na profissão, aumentou o orgulho dos pais – citavam seu exemplo para os amigos – e, apesar de toda firmeza, se deparou com uma dúvida:
– Até quando vou adiar essa vontade de pintar quadros e de ser ator?, pensava.
Sua profissão parecia alimentar suas esperanças de um dia fazer o que sempre quis, mas parava perto da fronteira. Sua firmeza de que cedo ou tarde chegaria lá virou o receio de que esse dia poderia nunca chegar.
A dúvida: nunca havia pensado nela.
Foi nutrido pelo medo que deixou Sofia partir mesmo que com uma promessa remota de um dia voltar.
Chegava aos 27.
Driblou a incerteza com muito trabalho entre os trinta e os 33.
Mas era tão certo de suas convicções, que o abateu a certeza da dúvida.
Aos 40, se deu conta de que toda sua segurança sobre tudo era a tentativa de controlar o caos.
Aos 50 estava só e finalmente convicto da influência do medo sobre tudo aquilo que deixou de fazer.
Ainda teve tempo de chorar, pela primeira vez, antes de o abater uma tuberculose fatal.
1 comentário
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junho 11, 2011 12:31 pm às 12:31
Ricardo Viel
Vitor, teu texto me lembrou Quintana.
“Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco…
E quando eu começava a compreendê-lo
Um pouco,
Já eram horas de dormir de novo!”