Gosto da Vanity Fair por causa dos portfólios fotográficos. Por causa das excelentes matérias que fazem porque não tratam o mundo do entretenimento como algo completamente desprovido (nem repleto) de riqueza e personalidade. E gosto da Vanity Fair por que eles ainda publicam o Questionário de Proust, religiosamente, respondido por pessoas interessantes e nem tanto.
O questionário que ficou conhecido como “de Proust” era, na verdade, uma lista de perguntas sobre a sua personalidade, que ele encontrou em um livro confessional (I know my Wikipedia) que pertencia a uma amiga. Marcel Proust, então adolescente, respondeu a um destes questionários e gostou tanto que os refez diversas vezes durante a vida.
É engraçado que o questionário de Proust tenha se popularizado dessa maneira, já que não foi algo que ele fez, mas que compartilhou quase involuntariamente. No Tumblr da vida de Proust, o questionário era só mais um post que foi reblogado por gerações e gerações seguintes, até chegar aqui. E virou meme, com uma série de versões e paródias que chegam até ao temível sofá da Xuxa.
Um questionário de Proust versão anos 2000 (que incluía “bandas que você acha que eu devia ouvir”) circulava entre meus amigos de colégio. Outro dia encontrei uma pasta cheia deles em uma conta de e-mail do Bol que hoje só me serve para receber spam. Ri muito, tive saudades, ternura, muita vergolha alheia e auto-vergonha.
A maioria dos meus amigos dizia odiar o questionário por ser chato, mas respondê-lo “porque é para você”. Mentira. Todo mundo queria a chance de poder mostrar como era legal.
Me dá alguma ansiedade ler as perguntas em sequência e me pergunto se Proust teve vergonha do seu primeiro questionário. Se percebeu que as respostas que deu quando adolescente eram bobas e ensaiadas para impressionar a si mesmo. Ou se achava que deu respostas melhores quando era mais jovem.
Sou a favor da circulação do questionário de Proust e suas variações, mas acho que existia uma razão para que ele aparecesse somente em livrinhos privados no começo, e para que se repetisse em quase todas as páginas.
As respostas sempre mudam com o passar do tempo, mas acho que as respostas que você dá somente para si mesmo mudam mais do que as que oferece aos outros. Ou mudam de maneira diferente. Valeria a pena conferir.
Mas algo me diz que pouca gente tem coragem de continuar respondendo o mesmo questionário durante a vida, como Proust. Pode ser medo de não se reconhecer ou de deparar-se com a ignorância de seus gostos e desejos. Pode ser medo de sofrer a comparação consigo mesmo, para o bem e para o mal.
O questionário é tão fútil quanto perigoso, como bem percebeu a Vanity Fair. Ele te oferece o espelho da sua vaidade para contemplar.
Mas como não é boba nem nada, VF também criou a versão para os fracos, em que você pode comparar suas respostas profundas com as das celebridades. Divirtam-se.
Camilla Costa escreve às quintas-feiras
3 comentários
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junho 9, 2011 10:03 am às 10:03
Julia Loyola
Apesar de nao ser o x do post, o que mais me chamou a atencao foi a camila justificando o por que gostava da vanity fair. O mundo do entretenimento quando tratado com seriedade (o que nao eh a mesma coisa de se levar a serio) pode ser bem interessante e ter muita coisa a ser extraida.
Muito bacana o purgatorio galera, sucesso!
junho 9, 2011 4:15 pm às 16:15
Ricardo Sangiovanni
Obrigado, querida, volte sempre. Sucesso também para você :)
agosto 4, 2011 8:22 am às 8:22
A vida que eu não vivi « O Purgatório
[…] E por falar em reminiscências, lembram daquele meu texto sobre o questionário de Proust? Pois alguém transformou o questionário (ou o que achou que ele era) em uma nova rede social. […]