por Guilherme Athayde
Há algo no silêncio que incomoda. Sem referências à mudez que acalanta algum respeito, nem à tristeza quando já não há palavras que possam mudar qualquer coisa. É o silêncio da recusa, aquele que impede o entendimento e abre um buraco negro de dúvidas. O silêncio que desorganiza, mas não consegue rearranjar o caos.
É com a palavra que me afasto dos nossos instintos irracionais e tento dar forma a existir. Afastar a ignorância profunda e ter a capacidade de reverter a timidez em ousadia, de fazer ideias tomarem dimensões e superfícies, de organizar, de compartilhar e ver que inevitavelmente temos algo em comum. A língua em todas as suas nuances, o esforço da palavra em todos os seus usos inesgotáveis, suas combinações infinitas.
Não compreender isso é dar vazão à força desorientada da revolta: um discurso de instintos, de não saber para onde se vai. A perdição de uma luta solitária, que faz do lado oposto o inimigo. O silêncio profundo dos meus pensamentos em eco dento da cabeça, que jamais tomarão uma forma propriamente dita, porque nunca existirão enquanto matéria e nunca se desprenderão dessa massa confusa que é não entender.
O silêncio dessa manhã enquanto repito todas aquelas dúvidas que não têm solução, porque ainda não existem. Não existem sílabas, nem frases, nem ao menos letras. São pensamentos estrangeiros.
Guilherme Athayde substitui Camilla Costa e Moreno Pacheco neste sábado
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