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(Desconfiava, então era preciso melhorar a história)
Como foi que vocês se encontraram se não tinham marcado nem nada?, voltou a perguntar para garantir que a velhice não o fizera surdo.
Assim mesmo como disse. Eu estava lá sobre a ponte olhando o dia que morria e ela apareceu caminhando. E olhou pra mim e olhei pra ela e a gente naquele momento mesmo soube que tudo que tinha acontecido antes era uma combinação mal disfarçada para a gente se encontrar ali naquele exato momento. Eu parei e ela parou. E eu fiquei um tempo pensando em uma coisa bonita pra dizer, porque não queria estragar tudo, queria que ela depois lembrasse a primeira coisa que ele me disse foi isso — e o isso ia ser mais bonito que poema de livro. Mas só consegui gaguejar uma incompreensão e foi aí que ela se adiantou e disse o nome e perguntou o meu. O dia estava morrendo, você prestou atenção nessa parte? É importante essa parte. Depois do silêncio ela perguntou onde ficava o banco e eu apontei, mas ela não fez hora nenhuma que ia a nenhum lugar. Encostou na ponte e ficou do meu lado vendo as pessoas que passavam lá embaixo.
Hum.
Nessa horinha mesma um homem que vinha bem apressado tropeçou e caiu. Te digo como estava já tudo arrumado, porque foi apenas para a gente rir que aquele homem tropeçou e caiu. Que serventia tem pressa, ela falou, e achei uma coisa inteligente de se dizer. Essa hora já fechou o banco, eu disse, e ela respondeu eu sei. E eu tomei coragem e falei não sei como é possível, mas parece que já te conhecia de antes, porque já te quero bem. E ela não falou nada. Tive medo que me achasse maluco, mas depois voltou a repetir eu sei. E assim incentivado eu perguntei você acredita em destino ou em amor à primeira vista, mas ela respondeu na mesma hora eu não, mas nisso eu acredito. Belisquei a perna disfarçadamente para ter certeza que não estava dormindo. E foi assim que a gente se encontrou sem marcar.
Meio dada a Tia Nalva.
Ah, mas essa não era Nalva. Essa moça eu nunca mais vi.
Tatiana Mendonça escreve às sextas