-Eu odeio o dia dos namorados.

Você, possivelmente, ouviu ou pronunciou essa frase na última semana. É um mote bastante utilizado nesta época, quando somos bombardeados com anúncios de amores pré-pagos, paixões instagramizadas em outdoors que sorriem pelas avenidas e propagandas que vomitam cupcakes recheados de fofismo. Felicidade a dois  para ser comprada e exibida nas vitrines do amor. Metamorfoseia-se – ‘na minha casa ou na sua?’ pelo – ‘é débito ou crédito?´

Paciência. Mas prometo que esta crônica não cairá na vã controvérsia entre o esmaecimento do puro sentimento amoroso nos tempos de crediário fácil. Nem no nexo barato entre a data comercial e a fugacidade do amor moderno. A questão que desejo suscitar é um pouco mais incisiva: Colocar etiqueta no amor que idealizamos é padronizar e limitar a forma de enxergarmos o amor.

Uma grande amiga minha, Rafa Soledade, sempre vociferou contra este tipo de padronização. “De que adianta um dia de amor e um ano de brigas?”, disse-me ontem. Mesmo sendo agraciada com as benesses de um relacionamento estável, ela segue com a mesma firmeza opositora a comemoração comercial dos tempos de solteira. “Todo mundo na rua com cara de apaixonado. E no outro dia quebra o maior pau”.

Citei a amiga para que, não pensem vocês, minha opinião seja reflexo exclusivo da condição de “solteiro convicto” que o amigo-irmão Gildemar me atribui. Até porque a única convicção que tenho na vida, é justamente de não ser convicto em nada.

Talvez exista um tantinho de mágoa em ter um dos primeiros namoros terminados justamente poucos dias após o 12 de junho. O ano era 1998, clima de Copa do Mundo, e presenteei aquela morena linda com quem namorava, do sorriso de covinhas e corpo violão, com uma camisa da seleção de Zagallo. Na verdade, foi um gesto meio desesperado, pois já havia percebido que havia entrado água no nosso bote do amor. Não deu certo. E quando Brasil foi destroçado por Zidane na final, pouco me importei. Um coração machucado não dá importância a coisas mixurucas como torneios mundiais de futebol.

Acho que – se vocês ainda não perceberam – me perdi no fio da história. Pois queria mesmo era dizer que o massacre promocional do dia dos namorados é uma maneira tosca de delimitar nossa forma de amar. Sim, porque exige provas, presentes, lembranças. Como se o amor não fosse construído por gestos cotidianos, flertes intermitentes, e até pelas discussões bobas. Como se o amor escolhesse operadora para usar bônus, assistisse comédias românticas bobas, jantasse peixe cru para parecer chique, segurasse o tesão na fila inconveniente do motel, brindasse com vinho barato. Sim, o amor faz isso, mas pode – e deve fazer –  muito mais.

E sim, existe amor em estar sozinho nesta data. É uma forma de valorizar os momentos e pessoas que construíram nossa história e aquelas que ainda  participarão dela. O dia dos namorados era para ser muito mais que um amigo secreto entre pessoas que acreditam se amar. Mas, obviamente isso não venderia de forma satisfatória.

Odiar o dia dos namorados, ou o modelo capitalista que ele emula, talvez não seja a forma mais romântica de enxergar o amor. Mas certamente é a menos cínica.

 Alex Rolim escreve às quintas