por Augusto Guimarães

Na contramão do gosto popular, o requentado sempre me agradou. Café, pão, muqueca de ostra, gols de Beijoca, amores e por aí vai.

Política não foge a regra. Mas antes disso, para excetuar, me cabe frisar que acarajé requentado é coisa de baiana que não honra o torço na cabeça.

Fiz sempre coro aos que achavam que João Henrique não seria um bom Prefeito. Lá atrás, o que no início, antes mesmo da primeira eleição, era uma premonição regida por minha eterna desconfiança daqueles que posam de reguladores dos costumes alheios, se provou em 8 anos, uma realidade pusilânime de cabelos presos a gel, calças apertadas acima da cintura e uma rígida pose evangélica de olhos esbugalhados.

Penso que cidades vivem, teem personalidade, manias e paixões. E Salvador é uma mulher exuberante, dançante, fogosa e parceira exigente. Muita areia do Abaeté pro caminhoneiro João carregar, ainda mais com tantas ladeiras pra subir. Tava na cara que não daria certo.

Salvador de hoje dá pena. Perdeu o brilho – a alegria – e propalar que a baianidade presente em nossas festas, que o místico charme das ruas e becos e que as praias de águas (e beldades) quentes ainda contagia e deixa todos felizes, só impacta quem não vem aqui há anos. Nossa cidade está irritadiça, nervosa, engarrafada, bruta e com cabelos em desalinho. De infeliz, perdeu o cheiro e a cor. O baiano quer mais sair que ficar.

Relegando o planejamento e a ação, João viveu em seu mundo bizarro, montado em Rocinante, atacando seus moinhos travestidos de barracas de praia e estacionamentos de Shoppings, elegendo Dulcinéias e Luízas e acompanhado por, ora um, ora outro, risíveis Sancho Panças. Enquanto isso, no mundo real, Salvador ansiava por um verdadeiro cavaleiro que asfalte ruas, reinvente a orla, regule o trânsito, olhe transversalmente pelas Malvinas e peite facções que pensam controlá-la (a cidade). Parta pra briga. Dando martelo, meia-lua de compasso ou até dedo no olho. Mas sem chorar.

Ao mesmo tempo em que administrava como um desastroso, João fazia política vitorioso. Conquistando e traindo com sorrisos, dividindo seus feudos e fazendo colaboradores o seguirem com olhos tilintantes, seguia sobrevivendo com as poucas armas (próprias) que tinha. Mas usando e abusando dos arsenais da cidade, o TCM que o diga.

Costurou seu sucessor? Muitos dizem que não, but who knows?

Qualquer um se aguçaria vendo aquela mesa que estava sendo posta.

Pelegrino era um prato requentado (olhe lá outra exceção dos meus requentes!) que os camaradas tentavam engolir com indisfarçada repulsa. Lídice era ensopado de chuchu, Alice era uma entrada logo engolida e no cozido que juntava na mesma panela Mário, Imbassahy, um Marinho (sem sal) e outras verduras, a farinha era pouca e o pirão que veio primeiro foi o de Neto.

O velotrol atropelou no funil final e a máquina do PT é que se mostrou criança. Chupou o dedo.

Aos que dizem que João, o nosso Cavalheiro da Triste Figura, chegou ao fim de sua linha, relembro sua reeleição onde era dado, como o é hoje, como morto.

Mesmo desfilando pateticamente com sua atual Dulcinéia, que de Paraíso mais parece uma verdadeira pá de cal no insepulto, quem sabe o futuro lhe reserva a égide de um antigo aliado?

O requentado, na política, surge às vezes como um original sabor.

Lá ele, né Neto?

Augusto Guimarães é o convidado especial deste sábado. Camilla Costa, nossa top of mind, titularíssima sempre, retorna na próxima semana