Depois de dias obrigatórios (sem alguma descaração não se vive), dediquei o resto do carnaval a jogar videogame. Futebol, para ser preciso.

É um jogo recente. Dá para reconhecer os jogadores pelo rosto. Há também um locutor, razoavelmente humanizado. É um investimento em realismo que se traduz em diversão.

Mas alguns poucas partidas depois, começa a cansar. O locutor se repete. E se você muda a língua (uso uma versão francesa), vai se cansar mais rápido ainda das piadas brasileiras de mal gosto.

Ainda não se inventou um mundo tão completo que possa substituído por este, real. O escapismo é possível, mas não o exílio.

Minha opinião não é unânime. Abram os jornais: as fotos são de bundas, as notícias são as bundas.

Bundas falsas, inflacionadas: as bundas são um investimento tão sério hoje quanto o dólar.

Mas não demora para que o jogo vire. Há essa mulher que colocou tanta química no corpo que começa a se deformar. As fotos distorcem, mas não inventam.

Penso nela com tristeza. Fez da bunda sua vida e as atenções admiradas que tinha, agora, são negativas, irônicas.

É preciso cautela ao lidar com os simulacros. Mais diam menos diam a gente descobre onde eles terminam. Se for assim, melhor se decepcionar com a vida, em que tudo, no fim, é mistério.

Diego Damasceno, mesmo que se atrase, escreve às terças