Ficavam em pastas pretas com folhas de plástico, condenadas a serem mil vezes vistas, nunca enviadas. Que tristeza um destino assim despropositado. Mas isso é só um olhar melancólico querendo ser poesia. Elas serviam de estar ali. Os papeis de carta. As coleções que todos faziam. Eu tinha a minha. E isso já diz muito sobre a idade que tenho. E a graça é que mesmo ali já eram produto de outro tempo, porque ninguém escrevia mais cartas, apesar de ainda existirem os diários de confidência.

Foi porque outro dia ouvi alguém falar essas duas palavras mágicas e imediatamente me vi de novo criança. E por favor façam um esforço para não ler isso como força de expressão. Até cheiro tinha, garanto. E lembrei de outra coisa ainda, de como pequena rezava para não envelhecer. Acho que já tinha desconfianças, talvez de outra existência, que nada do que vinha depois tinha muita valia.

E fui sempre sofrendo por ter que virar outra pessoa, mas a vida é renúncia. É o que diz um livro que ando lendo. Porque apesar de nossas ilusões variáveis ao longo dos anos, nunca dá para ser como era antes. E é bom que seja assim, apesar da assertiva ser de difícil compreensão e convencimento.

Não dá para se livrar da dor, também está lá escrito, porque sem ela não há evolução possível. O que torna ainda mais calhorda nosso tempo de felicidade obrigatória. Antes que fique muito sombrio, há que se registrar que a alegria não é uma invenção, mas uma conquista. Ia escrever decisão, mas não quero ser julgada pela rima.

Aos melhores dias.

Tatiana Mendonça escreve às sextas