É como uma sala de espera sem consulta marcada.

Você ligou antes para marcar?

Não, não liguei.

E quer esperar mesmo assim?

Se for possível.

E foi sentar nas cadeiras conjugadas. Por que as cadeiras ficam unidas se não economizam espaço, perguntou. Para ficar mais arrumado, respondeu. Ele sempre conversava só, mas não que todo mundo soubesse e achasse que era louco. Era de imaginação. Na televisão do consultório passava a reprise da novela para ver de novo e as pessoas viam.

Acha que eu devo esperar até quando, perguntou. Não sei, tente se manter são, respondeu. Abriu o livro que andava lendo, não muito triste, só um pouco, e vendo uma frase quis acreditar em vidas passadas. E então como seria se um escritor morto se reencontrasse em outro tempo apreciando sua própria história. E aí numa frase qualquer iria parar e ter a certeza de que escreveu aquilo, mas passado o susto, acharia uma bênção ter alguém que soubesse dizer como a gente se sente na forma do mundo.

Olhando para a novela ficou pensando em quem poderia ter sido antes do mais fundo escuro. E se tivesse sido policial ou letreiro. Mas se nessa vida não podia ser escritor, qual o problema afinal de que na passada pudesse. Não se respondeu.

Ao seu lado uma mulher passava as páginas de uma revista de fofocas. Tão linda, tão grávida, como uma aparição para fora das eras. Teve até coragem

É menino ou menina?

Menina.

Balançou a cabeça como se fosse melhor assim. E resolveu ir para casa e de lá ligar.

Tatiana Mendonça escreve às sextas