As pessoas são eternas. Não por suas obras nem por imortalidade da carne – esqueçam a vampirização barata que assola a ficção atual – mas por aquilo que modificam e moldam naqueles que permanecem a posteriori. Não morre aquele que vive no coração de alguém.
Sou um homem de fé católica e admitir isso, nos dias hoje, exige certo destemor para não parecer um simples sectário religioso que se opõe às racionalizações evidentes da vida contemporânea. E se não sou o praticante de outrora, vez por outra me permito professar minha crença. Como no domingo passado, quando em um simples ritual acompanhado por entes próximos, minha filha caçula recebeu o sacramento do batismo.
Ocasiões como essa sempre são uma brecha para as reflexões que julgo fundamentais para suportarmos o fardo cotidiano. Respeito quem julga religião como alienação, mas, pelo menos para mim, ela funciona como um referencial que nos permite revisar as nossas práticas de vida. Não que seja necessário crer em algo para isso, porém a crença nesse caso serve como escapatória para as frustrações diárias. Ou seja, tudo indica que seja alienação mesmo.
Dentre os muitos votos que renovei no ritual de domingo passado um merece destaque: “…creio na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém”. Há diferentes formas de interpretar o que realmente significa essa parte especial da súplica, e há uma a que me atenho ultimamente: Se alguém que já partiu ainda faz parte de sua vida (em pensamentos e inspiração) ela ainda está viva.
Digo isto pois, hoje, uma pessoa especial que não está mais no plano carnal estaria fazendo aniversário. Estaria não, está. Representa para mim uma espécie de Trindade posto que foi vó, mãe e madrinha em uma só – e por isso mesmo muito mais que qualquer das partes separadamente. Se a celebro e peço sua benção em minhas orações, tenho certeza que ela vive. Não preciso de homilia para entender isso.
Como nada é coincidência e tudo é providência, uma das igrejas que mais me reconfortam – e uma das preferidas para minhas confissões – a Igreja de São Francisco (uma das sete maravilhas de origem portuguesa do mundo) tem uma inscrição no relógio de sol do convento que diz (traduzida do latim): Cada hora que passa te fere e a última te matará.
Porém, cabe a cada um se tornar eterno.
Palavra da salvação.
Alex Rolim prega aos sábados
2 comentários
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maio 12, 2012 11:20 am às 11:20
Franciele Kruczkiewicz
No CCBB de São Paulo está escrito em uma das paredes:
“Dizem que morremos três vezes.
Primeiro quando o coração para.
Depois, quando somos cremados ou enterrados.
E, por fim, na última vez que alguém diz nosso nome.”
Acho que também se encaixa em suas reflexões. Ótimo texto!
maio 15, 2012 9:09 am às 9:09
bete
Muito bom!