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na frente de casa passa um trem

ele come os ferros dos trilhos e deles se alimenta, deixando pra trás a montanha, furando o espaço entre o que estava lá-do-outro-lado até o meu coração derretido à espera

para os outros faz barulho. Para mim, sonata

não traz pessoa além do maquinista

costumo acompanhar com a cabeça a passagem dos vagões, irmãos gêmeos uns dos outros, acizentados, mais ricos uns, que trazem ouro, mais pobres outros, cheios de brita

sei que sou menino de tudo, dois olhos vidrados no que virá, e por isso tanto me maltratam com minha sina de sempre ver o trem passando passando passando

falam das minhas canelas meladas de barro e da minha má educação por prestar atenção na máquina que sempre passa na hora da missa

mas se até o padre faz silêncio para o trem passar? Por que não eu?

aprendi a sorrir porque vi que o trem vai para algum lugar que eu também posso ir, para além da curva da encosta da queda

e aprendi a ser saudade

são trinta e tantos segundos pra passar, dependendo do peso. Foi o maquinista que me disse

quando vejo o último vagão, teimo em não deixar a lágrima cair porque seria besta demais chorar toda vez que passa o trem.

mas bem que ele podia passar pra sempre, sem acabar

daria voltas dentro do espaço onde vivo meus dias de menino e ficaria brilhando só quando passasse na minha porta. Só na minha

sua música iria andando de rua em rua e eu seria o dono da cidade porque só eu, com a minha canela seca e melada, barriga estufada, menino de tudo, sei o segredo do trem que nunca, nunca, para

Carmezim escreve às quartas-feiras

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