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Se não estivéssemos sentados na janela esperando ele chegar, para nos juntarmos ao coro do inevitável, Saturno talvez não retornasse. Ou talvez retornasse, seguisse calmamente com a sua órbita de séculos e séculos e passasse despercebido por nós, como passou durante tanto tempo.

Mas agora todos os olhos estão sobre ele. O esperamos insistentemente feito na véspera de Natal, quando era difícil dormir sabendo que teríamos um presente no pé da cama.

Para minha irmã, um retorno desses de Natal foi particularmente ruim, porque ela ganhou um Meu Primeiro Gradiente, ao invés de alguma coisa da Barbie que ela queria. Não gostou nem um pouco, chorou e fez revolta, mas depois se acostumou com ele. Gravamos um programa de rádio memorável, em uma fita que está perdida.

O presente provavelmente marcava o fato de que ela já era mocinha e as Barbies começariam a ficar para trás. Agora era um gravador(!) portátil, com rádio, microfone, uma liberação dos pólos de emissão dentro da minha própria casa. Era possível tomar as rédeas da própria brincadeira dali por diante. Não houve volta, depois daquele Meu Primeiro Gradiente. Nem para ela, nem para mim, que nem lembro mais do meu próprio presente e ponguei no mini retorno de Saturno alheio.

Depois do Gradiente vieram a vida amorosa, a sexual, o trabalho e Susan Miller. Saturno entrou nas nossas vidas e ele provavelmente recebe dúzias de cartas diárias pedindo que chegue logo, ou não chegue nunca, que traga a Barbie e não um Gradiente, que seja leve, que mude tudo, que não estrague nada, que nos poupe por favor.

Parece que precisamos dele para nos dizer que o inevitável chegou, que ou dá ou desce, que é agora ou nunca, que a vida não será mais o que era antes ou que vai ser assim mesmo daqui por diante, para sempre. Tivesse Galileu sido um pouco mais esperto, teria dedicado seus esforços a estudar este outro planeta, não a relação da Terra com o Sol, e nos lembraríamos dele com ainda mais reverência.

Claro está que não sou Galileu nem Susan Miller. Portanto, não discutirei aqui se o retorno de Saturno é real ou não. E que las hay, las hay. Mas sei que ele virou a Tpm dos quase 30. Até rola, mas talvez o estejamos usando excessivamente como desculpa e como assunto. Se não estivéssemos olhando, talvez Saturno passasse como sempre e chamássemos o seu retorno à nossa casa Natal de “crescer”.

Mas que conotação nefasta esse verbo parece ter adquirido hoje em dia.

Camilla Costa escreve às quintas-feiras.

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