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Li que o SBT contratou o humorista que chamou o colega de palco de macaco portador de HIV porque achou que isso seria engraçado. O colega é negro.

Vou deixar de lado o fato de o evento onde se apresentava o humorista se chamar Proibidão (pegaram?) e o fato de o público ter sido convidado a assinar um termo em que se comprometia a não se ofender com o que fosse dito, porque isso excede demais os níveis de ofensa à inteligência que se pratica cotidianamente no Brasil.

A propósito, o rapaz ofendido não assinou o termo (pergunto-me se alguém poderia fazer como José Serra e dizer que era só um papelzinho).

O que me leva a voltar a esse assunto não é uma vontade de criticar o estilo do humor que a televisão mostra e as redes sociais (humor entre amigos) propagam. É evidente que é assustador.

Queria insistir sobre o fato de o humorista sem graça ter sido contratado. Deve ter feito um plano: “vou falar barbaridades, chamar a atenção e assim ganhar um emprego”. Deu certo. Porque tudo parece ser medido hoje em termos de carreira, de mercado, de dinheiro, tudo parece ser enquadrado no materialismo e feito para se enquadrar na publicidade.

Julgo por tudo o que vejo no que podemos chamar de esfera pública.

Não sei se aceito o argumento de que sempre foi assim, que o dinheiro sempre existiu etc.

Primeiro porque isso é uma desculpa para aceitar o estado das coisas.

Depois, porque hoje tudo passa pelos meios de comunicação.

Não adianta existir amor ao próximo e honestidade se só tem espaço nos jornais e no Facebook para a dramatização da violência e comentários que misturam cinismo e acomodação.

Não adianta haver um cara como Tunga ou como Ai Weiwei se o discurso em volta de sua arte será sempre o financeiro: quanto custa uma peça sua, em que grande museu ele ja expôs no mundo, para quantas pessoas etc.

Vivemos um momento de brutalização da nossa relação com a cultura, sim.

Voltando ao humorista lá, quando o cara é contratado, a mediocridade dele faz efeito, deixa de ser individual e passa a fazer parte de uma cadeia, aliás ela se torna o motor próprio dessa cadeia: a TV contrata, as pessoas assistem. A mediocridade está espalhada.

E a lógica, assimilada: fale merda, e você sera engraçado – chatos são os outros, que não entenderam a piada.

E por aí vai.

E não: assistir ou se logar para criticar nem sempre é a melhor resposta. As vezes é melhor passar longe, sob o risco de ligar a TV bem na hora em de ver e ouvir um idiota ser racista e preconceituoso com um sorriso amarelo no rosto.

Diego Damasceno escreve às terças

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