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virou matéria na minha frente
o peito arfante transparente permitia ver que dentro era oco, translúcido. estava prenhe de nuvem, como um algodão doce dentro da caixa do peito
vestia bermudas e tinha os dedos finos, longos, inalcançáveis
quando suspendeu o braço direito, ventou no quarto. era lua cheia e os pés não tocavam o chão
era o anjo
trazia folhas de papel amarelo amarrados com um espiral de arame prateado. sorriu. sentou na beira da cama. ao soltar o ar, liberou um par de asas
fiz dois giros na alma, desandei a fala, desagüei em mudez
ocupou o espaço silencioso com o outro sorriso. disse nessas horas da madrugada costumo estar por aqui
ao sinal de que eu ia perguntar algo, levantou o indicador.
o que ia dizer mudei. nunca pensei que anjos interrompessem, consegui balbuciar
é que eu já sei, disse sem pronunciar uma palavra
e isso dito, folheou o maço de papel amarelo. eu pude ver, eram o nome, aquele nome, o pedido, a angústia. ele anotara tudo tudo tudo
cheguei perto, ele ajeitou a coluna, a asas fizeram um leve movimento
na primeira vez que falou com a voz dos homens disse: para ultrapassar a dor você tem que colocar a alma no papel e apontar onde dói
apontei os olhos
eu sabia. mas não se preocupe. seus olhos vão sorrir
foi quando bateram na porta.
Carmezim escreve às quartas-feiras