Era o que faltava: gente dizendo aqui na Cidade da Bahia que anda com saudades de ACM.
Que a zeladoria da cidade – e não a administração da prefeitura como um todo, entendam-me bem – está pior do que em tempos idos, vá lá.
Mas que a solução para o desgoverno de nossa terra arrasada seja o retorno ao colinho de painho, ora, pois me façam uma grande garapa.
A esse respeito, parece-me suficiente a máxima de meu velho pai, tão estudioso de política quanto eu da fisiologia mitocondrial dos unicelulares eucariontes do reino monera:
– Se João Henrique está aí, é culpa de ACM.
Pensando bem, faz todo sentido. Exponho o raciocínio do velho – vocês vejam se concordam.
Leitores baianos deste blog irão se lembrar – e os de fora passarão a saber – que o (arrisco) maior monumento em praça pública de Salvador, imponente a fender uma das principais avenidas da capital, a Garibaldi, é amplamente conhecido por “o cu de Clériston”.
Por tratar-se de gigantesco bloco quadrangular de mármore branco em que se recavou uma tortuosa letra “C”, tendo sido deixado sugestivo orifício no centro da obra, atiçou a anarquia anal do povo desta Bahia, que assim lhe batizou.
Pois o “C” invoca o prenome de Clériston Andrade, candidato biônico de ACM ao governo do Estado em 1982, que morreu num acidente de helicóptero dias antes das eleições.
Às pressas, ACM escolheu o nome de João Durval Caneiro – pai de João Henrique – como substituto, preterindo outro governadorável à época, Afrísio Vieira Lima – pai, por sua vez, de Geddel. (Oh, céus.)
Eleito Governador, João Durval deu vulto político ao nome da família. De modo que, não fosse filho de um ex-governador, João Henrique talvez nunca tivesse deixado de ser um joão-ninguém.
Aí passam os anos, os ex-discípulos de ACM se lhe tornam desafetos, e eis que João Henrique surge como candidato das oposições baianas a defenestrar o Carlismo, em 2004. E é eleito, para nossa desgraça, prefeito de Salvador.
***
Se não deixou de ter saudades de ACM até agora, tenho uma mais fácil. Pense numa jaca. Bem bonita e suculenta; mas, quando aberta, vê-se que está cheia de bagas podres. E aí: jogar a jaca fora, ou recosturá-la?
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Estão achando meu pai um ás em política? Danei-me: agora vou ter que me matar de estudar as diabas das algas.
Ricardo Sangiovanni escreve aos domingos
4 comentários
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fevereiro 5, 2012 1:20 pm às 13:20
Gil Maciel
Perfeito
fevereiro 6, 2012 11:13 am às 11:13
Ricardo Sangiovanni
Valeu Gil! Volte sempre :) Um abraço.
fevereiro 17, 2012 1:35 pm às 13:35
Pedro Fernandes
a mais triste nação, na época mais podre, compõe-se de possíveis viúvas de ACM
janeiro 4, 2015 6:14 pm às 18:14
Claudio Monteiro
Como nao sou bahiano, procurei imagens do monumento na internet e deparei-me com uma noticia perturbadora: o cu do Cleriston estava em chamas!!! Sim, pegou fogo e, pela foto, pode-se perceber que foi necessário a introdução de uma robusta mangueira para finalmente dar cabo, pois que ja estava bem pirocado.