Não estraga se eu contar : Tudo pelo poder, de George Clooney – “e grande elenco” – termina com close no rosto de Ryan Gosling, que no filme vive o papel de assessor de um pré-candidato democrata à presidência (Clooney).

Nesse filme cheio de boas cenas, talvez essa imagem seja a de maior força. Ela é também significativa para Gosling porque simboliza sua aceitação por Hollywood. A seu lado, ele tem gente como Marisa Tomei, Phillip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, o proprio Clooney, mas ainda assim não precisa brigar por espaço: é o filme que lhe dá.

Um símbolo tem outros significados. Por exemplo, o fato de a beleza ainda importar tanto no cinema. Quando Carl T. Dreyer disse que não existe nada mais belo do que um rosto humano, ele não se referia a nenhum galã (filmou entre 1919 e 1964), mas certamente à Joana D’Arc que idealizou e que Maria Falconetti tornou mito por sua atuação. Mas Dreyer nunca importou tanto para a industria quando Clark Gable, Paul Newman, George Clooney ou, agora, Gosling.

A passagem do bastão da sedução pelos olhos é um sistema antigo, sabe-se. Jacques Aumont, o über-intelectual da cinefilia, escreveu que a função da estrela de cinema é menos encarnar personagens do que viver seu próprio papel de estrela.

Mas em Tudo pelo poder, o ator vira metáfora do personagem. A adesão que se espera a Gosling é a mesma que esperam os políticos; e essa adesão, muitas vezes, pela fortíssima afirmação da superfície, descarta todo o resto. A imagem (o rosto) vence o que supostamente representa.

Então, a beleza de Gosling sustenta que devemos olhar para ele. E supõe que ele é bom ator (independentemente de o ser ou não).

Assim como a gravata, o cabelo e a aliança no dedo pede que confiemos no político. Afinal, ele se penteia, tem uma família e é um trabalhador. Mesmo que ele destine o dinheiro publico que controla com vistas a seu futuro político e pessoal. Mesmo que ele queira jogar dos dois lados, saindo na foto da promessa cumprida e, ao mesmo tempo, saindo de crítico da promessa que, afinal, não foi tão bem cumprida. Mesmo que eles reiterem o hábito de aprovar, quando quase ninguém está olhando, algo que quase todo mundo desaprovaria.

Tudo pelo poder está em cartaz em todo o Brasil.

Diego Damasceno escreve às terças