Tenho um plano. Para se nada der certo. Para o caso de ficar assim como está. Com os dias amanhecendo por força do hábito. A gente foge, vai para tão longe e depois.

Tenho um plano. Para se continuarem espetando o boneco dessa maneira tão eficiente. Para o caso de quase não caber mais nenhuma agulha. Com os dias amanhecendo cinzas ao invés de claros de sol. A gente vai para uma praia onde só muitas léguas distante haja palavra escrita e depois.

Tenho um plano. Para quando as alegrias rarearem a ponto de parecerem invenções. Para o caso de os caminhos estarem todos encobertos pela neblina. A gente fica aqui parado mesmo nessa cama embaixo do cobertor ouvindo aquela música repetir-se até o fim da eternidade e depois.

Tenho um plano. Para quando o silêncio fizer de deserto o mundo. Para o caso de sobrar uma única pálida cor. A gente anda pelas dunas quentes até perder os sentidos e depois.

Tenho um plano. Para se o dinheiro faltar e a fama e o respeito e até a consideração. Para o caso de restar apenas o desprezo. A gente faz um mapa de todos os parques que ainda têm Monga e corre sempre de medo antes da transformação e já em segurança ri até a barriga doer até dobrar os joelhos até se estabacar no chão e depois.

Tenho um plano. Para se o assunto acabar. Para o caso do tédio tomar conta do café da manhã e do jantar. A gente compra um cachorro e deixa ele ser fedido pra ficar contando as pulgas e depois.

Tenho um plano. Para todas as ocasiões. Para todas as letras do alfabeto. Mais muito mais que os gatos têm de vida ou que a gente conseguiria com afinco somar de problemas. Vem comigo e eu te explico.

Mas depois, porque agora eu preciso ficar quieta.

Tatiana Mendonça escreve às sextas