Egodistopia – Distúrbio que faz com que o indivíduo acredita ter se tornado algo que não gostaria e, em consequência, pode vir a sofrer de sintomas menores de depressão.

A egodistopia foi descoberta na década de 90 por acaso, pelo psiquiatra amador americano A. S. Königsberg. Ao redigir um artigo sobre a egodistonia (uma perturbação da identidade na qual os desejos ou impulsos de um indivíduo não correspondem à concepção que ele tem de si mesmo, comumente associada a comportamentos como a homofobia), Königsberg digitou incorretamente a palavra e riu de se mesmo.

Alguns instantes depois, no entanto, ele pensou “Quem nunca?”, segundo relatou em seu primeiro livro sobre a doença, Egodistopia – O futuro que você não queria, diante do espelho

Nos anos seguintes, o psiquiatra veio a fundar a primeira Escola de Estudos Egodistópicos do mundo na Universidade de Nova York, em meio a severas críticas de seus pares, que ainda acreditam firmemente que a doença foi inventada.

Diferentemente da egodistonia e da egossintonia (situação em que as atividades do id, ego e superego se coadunam, criando uma imagem do eu isenta de qualquer crítica e um comportamento condizente com a representação que o indivíduo tem de si mesmo), a egodistopia se caracteriza por uma contradição de ordem emocional.

O indivíduo sabe bem que corresponde à representação que tem de si mesmo e a aceita racionalmente. Ele só não gosta muito disso. Em uma crise de egodistopia, a pessoa se pergunta por que exatamente ainda não se tornou o que gostaria e sabe que poderia se tornar. O questionamento, que parece normal e próprio da condição humana em primeira análise, é dramatizado pela condição e ocasionalmente leva a situações de melancolia profunda.

No início dos anos 2000, para a surpresa da comunidade psicanalítica, uma epidemia de egodistopia foi supostamente detectada em países ocidentais e na China pelo pesquisador dinamarquês L. Trier. É atribuída ao acontecimento a criação de um mercado internacional que movimenta milhares de dólares todos os anos, especialmente voltado para formas alternativas de tratar os sintomas do distúrbio.

Uma esquipe de psiquiatras da Universidade de Melbourne, na Austrália, se declarou recentemente contra os tratamentos alternativos, que chamam de “egomeopatia”, e afirmou que a egodistopia só pode ser tratada com um regime terapêutico intensivo. Os pesquisadores já publicaram três livros de uma série Faça você mesmo sobre o assunto.

Vítimas da condição continuam sem respostas definitivas sobre suas causas e tratamentos.

Camilla Costa escreve aos sábados.