Em texto publicado no início de fevereiro, um correspondente da Reuters no Rio escreveu sobre o que suas cortinas novas sem pendurar dizem sobre a economia do Brasil. Partindo da anedota de que já não encontra ninguém para instalar em sua casa as cortinas, ele assinala o crescimento do poder aquisitivo da classe C – as pessoas que faziam estes trabalhos — nos anos Lula e Dilma e pula para outro problema atual: a falta de mão de obra qualificada para diversos setores no país. A conclusão de Brian Winter faz sentido. As pessoas estão, naturalmente, deixando seus antigos trabalhando em busca de empregos mais qualificados e que pagam melhor. No entanto, falta qualificação no Brasil.

Tudo isso é muito interessante, mas as cortinas continuam lá na caixa, como diz Winter. As cortinas me preocupam, penso sobre elas. Já falamos sobre a ascensão da classe C, a falta de mão de obra qualificada, dondocas já se pronunciaram sobre a “horrível escassez de empregadas domésticas e babás”. Mas ninguém falou sobre o que fazer com as cortinas.

Tenho pensado bastante sobre se, apesar do surgimento dos “maridos de aluguel” (Será que Brian Winter tentou essa?) a classe média brasileira pode estar no caminho de se tornar uma classe média Do It Yourself americana. Não o DIY do movimento punk, mas aquele que vende revistas bem diagramadas sobre como fazer pequenas reformas na sua própria casa, limpezas de primavera, reorganizações. De como escolher o modelo adequado de janela, de como pendurar cortinas. Não sei se já está acontecendo, gostaria de saber, tenho esperança de que aconteça.

Depois de Amélie Poulain, virou moda falar em prazeres simples do cotidiano como enfiar a mão numa tigela de feijão cru, mas quero ver é me falarem sobre como é bom bater um prego corretamente, arrumar um jeito de prender os fios na parede, pintar uma parede inteira da sua própria casa. Construir algo, você mesmo, do conforto que quer para sua vida. Da pra virar mestre das obras próprias? Não, nem pensar. Mas é engraçado que, quando começam as tendências de valorização do trabalho manual, não vamos além do colar de miçangas caseiro e da almofada de fitas na feira do fim de semana.

Sinto falta de entender o trabalho. De saber como replantar minhas plantas, da aula de carpintaria básica que nunca tive, de por onde diabos eu começo com o pincel. Pelo meio da parede? Lateral? Sinto falta do Sr. Miyagi, porque ele sabia que o trabalho manual ensinaria a Daniel San a paciência e o foco necessários para fazer qualquer outra coisa.

Essa semana encontrei alguém para colocar um papel de parede na minha casa. Papel de parede, veja bem, é uma arte. Um trabalho altamente qualificado que só consigo admirar por enquanto, com total fascínio. Mas pendurar as cortinas? DIY, né, gringo. DIY.

(Convém dar uma olhada em tutoriais do YouTube se ela for de trilho)

Camilla Costa escreve aos sábados.