Recebi um email desiludido. Título: “é para rir ou para chorar?”. Conteúdo: Pelegrino sobe 8 pontos e agora é líder, porque ACM Neto caiu 7. Assunto: eleições em Salvador.

Vou arriscar uma ingenuidade e justificar porque prefiro esse cenário ao anterior.

Sinto-me mais próximo de um governo do PT do que um do DEM. Acho que é mais fácil cobrar do PT do que do DEM. Acho que o PT é mais transparente em suas propostas do que o DEM sempre foi.

Transparência não é aqui sinônimo de honestidade e oposto de corrupção. Transparentes em suas propostas, quero dizer: têm uma agenda embasada, conhecida mundialmente e construída com ajuda de parte dos maiores intelectuais da segunda metade do século XX. Nós sabemos sobre o que o PT foi erguido. E podemos cobrá-los a partir de seus próprios documentos.

Eu não conheço o DEM. Vivi em Salvador por 26 dos meus 30 anos e sempre fui uma pessoa mais ou menos interessada em política, mais ou menos envolvida em discussões de interesse coletivo, mais ou menos leitor de jornais. O DEM, para mim, foi Antônio Carlos Magalhães. O DEM não é um partido, é uma exigência eleitoral, é algo de que ACM precisou para poder concorrer a cargos políticos.

Alguém pode levantar a mão e dizer: por que não, então, o PSDB, que também têm ideias (diferentes das do PT) sobre certas questões mais amplas (economia, por exemplo)? Porque, e essa é a segunda parte do meu argumento, não é apenas uma questão de ter ideias. É também questão de se identificar com elas.

Identifico-me com o que embasou o PT no seu nascimento. E por isso respeito o voto no PSDB (porque acho que o PSDB tem coisas com as quais é possível se identificar), apesar de nunca ter votado neles.

Compreendo que o remetente do email tenha suas dúvidas: Pelegrino ou ACM Neto? Mensalão ou coronelismo? E não seria ACM um corrupto? E não seria Lula um coronel? Mas acho que essa dúvida só valerá enquanto nosso envolvimento com a política se resuma a dois braços de ação: 1) o voto e 2) a discussão com amigos. Enquanto criticarmos de longe, enquanto não nos organizarmos para cobrar, enquanto fizermos do Brasil o melhor país do mundo para ser político (já que a parte da população que mais tem condições de ir à luta não vai), PT e DEM se equivalerão, e o PSOL será igual ao PSDC.

Talvez a desilusão com o cardápio de candidatos seja apenas a face visível de uma desilusão secreta da sociedade com ela mesma, dos cidadãos com eles mesmos, diante de sua incapacidade de agir. O problema pode ser menos quem governa mas quem deixa governar.

Pelegrino ou ACM Neto? Não acredito que um seja necessariamente melhor do que o outro. Mas acredito na diferença entre os dois. Acho que Pelegrino será melhor do que ACM Neto porque de Pelegrino será mais fácil exigir que cumpra o seu papel como prefeito. Mas isso, é claro, só poderá se provar verdadeiro (ou falso), se formos às ruas. Se formos, antes enfrentar um inimigo de barba e bigode do que um fantasma de paletó.

Diego Damasceno escreve às terças e, excepcionalmente, neste sábado. O texto de Camilla Costa, titular dos sábados, será publicado na terça.