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De todos os objetos humanos que poderiam, na vitrine de museu futura que  nos está reservada, simbolizar a vida fora de casa, a lanterna japonesa terá um destaque especial. Antevejo até mesmo uma pequena sala especial de uma ala antropológica dedicada exclusivamente a ela.

Diante dos visitantes desfilarão modelos diferentes: as primeiras, antiquíssimas, lanternas feitas realmente no Japão e na China por camponeses. Seu uso em cerimônias religiosas, sua importância na vida diária descritas nas etiquetas e nos textos introdutórios. Lanternas de diferentes formatos e cores, elaboradas, fabricadas em outros locais da Ásia.

Em seguida, a expansão da lanterna de papel no século 19 dentro da febre da decoração chinoiserie, a fascinação do ocidente pelos poucos elementos de cultura oriental que conseguiu incorporar em um arremedo kitsch de conhecimento do exótico.

Por fim, chegaríamos à Ikea, à feirinha da Liberdade, às Chinatowns e às lojas de design do mundo ocidental. Em todas elas, esta lanterna japonesa branca que une todos os quartos e salas de quase todas as kitchenettes, estúdios diminutos dos bairros periféricos em que se vive por aí como estudante de moda, da língua, intercambista, trabalhador temporário (ou subtrabalhador permanente) nas migrações internas e externas.

São muitas histórias distintas, e uma ligação sutil entre eles, a lanterna japonesa. Não sei se o texto introdutório desta vitrine específica no museu – que certamente traria somente a lanterna branca grande e pelo menos duas variações de fios com luzes de pisca-pisca abarrotadas de lanterninhas – conseguiria explicá-la. A lanterna japonesa na era de sua reprodutibilidade técnica era simples de produzir, barata, charmosa, clean, um must-have dos catálogos de decoração de lojas de móveis prontos.

Mas era também, e principalmente, o que nos obliterava a visão daquela lâmpada triste pendurada em um fio empoeirado pendente do teto – um lembrete da indiferença dos senhorios, um detalhe da casa-fantasma na qual alguém um dia pendurou uma luminária por alguns meses e que nos cabia, agora, transformar.

Camilla Costa escreve aos sábados.

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