Inácio Araújo notou que a cultura, em São Paulo, perdeu espaço para o evento. Usou as filas da noite dos museus como exemplo: o paulistano acostumou-se a esperar horas do lado de fora para ver exposições. O esperar converteu-se silenciosamente no ser visto. Quatro horas na fila e meia hora dentro do museu não é uma relação estranha.

Comer em restaurantes dá no mesmo. Na fila não se sente fome se outra necessidade, a de esculpir uma imagem social, for satisfeita. Sair para comer significa poder aquisitivo (restaurantes caros), gosto adquirido (restaurantes bem criticados), posições alcançadas (restaurantes famosos). Do outro lado, os donos do negócio agradecem. Ruim que quem esteja apenas interessado na refeição tenha de dividir essa conta.

Advogados anunciam que foram roubados vídeos de sexo do computador do rapper Kayne West. Nesse caso, o ladrão, o rapper, o advogado, o anúncio e o jornal que o passa adiante se dão as mãos na mesma cadeia. Tudo parece calculado para a performance. Não estranhe se a estranha com quem KN aparece nos vídeos seja a próxima 1) participante de reality show; 2) cantora famosa; 3) namorada de outro rapper a aparecer em outro vídeo de sexo vazado na internet.

Os textos do sociólogo Erving Goffman (1922-1982) usam a metáfora do teatro para investigar a vida em sociedade. Seu pensamento é que os homens constroem uns aos outros, constroem-se um no outro. Mas uma coisa é questão de comunicação, convivência, cultura, formação de uma sociedade. A outra é apenas uma forma de se sentir interessante ou de ficar mais rico.

Diego Damasceno escreve às terças