Em busca do ambiente ótimo

Uma das grandes ilusões da vida adulta, tomem nota, é achar que estamos prontos para ter plantas em casa só porque compramos vasos de plástico ou alumínio coloridos, e colocamos uma prateleira na varanda, e lembramos de molhá-las uma vez por semana. A gente nunca pensa na tesoura para fazer a poda e, principalmente, no transplante de vasos, uma fronteira a ser cruzada.

Queria transplantá-las eu mesma, na verdade, mas não sabia por onde começar, e resistia à ideia de ter que colocá-las todas nos vasos de barro clássicos. Quase matei a rosa menina porque não tinha terra suficiente, comprei a terra, mas não sabia se devia deixá-la naquele lugar. Dei um basta em uma das minhas fontes de angústia levando as plantas de casa – amadas, porém morrendo nos vasos coloridos na varanda – para o transplante, em um viveiro do bairro.

Passei umas boas horas sentada ouvindo as recomendações de Toni, piauiense de Teresina, enquanto ele as colocava carinhosamente nos vasinhos de barro sem  graça (não houve alternativa) me dizendo sempre que “assim a planta se sente muito ótima”. A palavra “ótima” Toni usava como físicos falam de ponto ótimo de alguma coisa, condições ótimas de temperatura e pressão. Ou ao menos assim eu entendi e atribuí à sabedoria dele a precisão científica.

Minhas plantas estão ótimas mesmo, sem precisão científica e com orgulho maternal. Nesse mesmo dia, me peguei admirando os vasos de barro porque – Toni venceu – as coisas podem ser bonitas porque úteis, e não porque têm cores da estação e carinhas desenhadas nelas por um ilustrador moderno qualquer.

Chega um momento em que a gente se cansa de matar planta, pensei, como se cansa de não conseguir  manter relacionamentos à distância.

Tanto em um caso quanto no outro, não era amor o que faltava, acho, mas destreza mesmo. Não deixamos de comprar as plantas nem de topar os relacionamentos, porque os vemos ali na prateleira da floricultura/supermercado e é aquele carinho instantâneo, aquela vontade de ter vidas em casa. Aí vamos ali, compramos uns vasos e pratinhos coloridos e trotamos felizes para o caixa.

Mas é que, muitos cactos, bonsais e namoros temporariamente à distância depois, percebo que cuidar das suas coisas é também reconhecer que você não sabe cuidar delas automaticamente, e aprender.

Camilla Costa escreve às quintas-feiras