Ao acordar, tinha o peito colado às paginas do livro.

Súbito pensou em astros, budismo, cartomantes, zodíaco, videntes. Não era afeito a coisas tais. Descrente. Mas algo tinha mudado, era como se agora a vida passasse correndo e era preciso saber os atalhos, era preciso crer na vida, suportar o peso.

Cigarros? Nunca colocou um na boca. Nem um só trago. Aí, assim, com o sol desmaiando pela janela, sentiu uma vontade irrefreável de fumar. Desceu, foi na esquina, comprou Derby. Subiu.

Depois de fumar quatro cigarros acendendo um no outro, sentiu gosto de mofo na boca. Na fruteira, pêra, maçã, uva. Deu uma dentada na maçã, olhou a lista de coisas por fazer para o dia que se iniciava: ver se hoje era o dia Urano entraria em Escorpião, recuperar as fotografias da Gladys e da Liége.

Para a passagem de uma grande dor, Luchita, amiga de sempre, tinha indicado muitas horas de cama, fossa total. Vitrola na veia, cantos rasgados, garrafas e garrafas de vinho. Quem sabe, dizia Luchita, ele viria com o peito aberto, o hálito fresco, bateria à porta, com uma garrafa de vinho, e vocês pediriam uma comida quentinha e bye bye para a dor?

Voltou para a cama. Morangos Mofados nas mãos. Esticou o braço e pegou mais um morango na caixinha de plástico que tinha comprado na sinaleira.

No outro dia, acordaria com o peito colado às páginas do livro.

Carmezim escreve às quartas