E se ninguém mais lutar?
Não posso. Não quero. Tenho medo. Socorro. Tentei, mas… Não dá jeito. Perda de tempo. Tenho filhos. Tenho mãe. Sou só. Sou egoísta. As pessoas deviam agradecer de ver o Chiclete com Banana de graça. Votei em Sarney. Votaria em Ricardo Teixeira. Admiro Ricardo Teixeira. Quem liga para Ricardo Teixeira? Não existe guerra. Sou muito bom para minha empregada doméstica. O Brasil está perdido. Não tenho meios. Não vejo o propósito. A China é problema dos chineses. Me paga quanto? Vou ganhar o quê? Não tenho forças. Vou levar minha avó na musculação. Por mim mata tudo. Bandido bom é bandido morto. Votei em Bush. E em Sarah Palin. Não vejo o propósito. Eu quero é o meu. Apenas faço o que todo mundo faz: nada. Tenho uma agenda diferente. Ja é suficientemente difícil lidar com meus problemas. Comunismo é coisa do diabo. Isso nunca vai mudar. Sou um artista. Sou médico. Tento ajudar o povo, mas o povo não se ajuda. É pobre porque quer; emprego tem. Essa dívida não é nossa. Esse povo é preguiçoso. Lutei e consegui, porque os outros não podem? A culpa não é minha. Não sou comunista. Quem faz o carnaval é a iniciativa privada. Eu é que não vou colocar mendigo na minha casa. Coloque você. Não quero ser preso. Não quero ser espancado. Tenho compromisso. Tenho trabalho amanhã. Tenho dentista. Não quero. Tenho medo. Socorro. Tentei, mas… Não dá jeito. Tem jeito não. Politico é tudo igual. Isso nunca vai mudar. Essa dívida não é nossa. Quem pariu Mateus que balance. Esse povo é preguiçoso. Pago meus impostos. Acho que basta. Hã? No Brasil não há preconceito. Leio jornais. Meu tempo passou. São eles que têm que lutar. Votei no PT. Posso ver minha novela? Passei o dia inteiro no escritório, peguei mó engarrafamento… Tô sem cabeça para isso. Sou fã da Apple. Sou fã de Belmonte. Quem vai pagar por Belmonte, você? Aborto é assassinato. Não existe guerra. Sou muito bom para minha empregada doméstica. Homossexualismo tem cura. Homossexualismo não tem cura. Não existe almoço grátis. Não somos obrigados a sustentar imigrantes. A Síria continuará lutando contra os terroristas. Quem faz o carnaval é a iniciativa privada. O Clarín é um complô. Em Cuba tem escola e comida para todo mundo. Viva J.-M. Le Pen. Estou bem, obrigado. Viva B. Nétanyahou. Viva. Não há condenação contra Maluf. A Copa do Mundo é do povo. Mas ele jogou muito. Foi um erro de cálculo do TJ-SP. Salvador precisa de mais hotéis. Eu sou um humorista. Perda de tempo. Não posso. Não quero. Eu não.
Você luta só?
Diego Damasceno escreve às terças
4 comentários
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março 20, 2012 9:29 am às 9:29
Eduardo Sarno
Entendo que vc se refere à boa luta. Mas…lutar é uma condição humana. O que observamos é que os objetivos das lutas estão (talvez sempre estiveram) dispersos e rebaixados. A grande luta de toda a humanidade por um futuro pelo menos razoável, creio que acabou. Hoje temos lutas pessoais, municipais, federais e mundiais. E o pior, luta-se uns contra os outros. Os paradigmas e ideais foram estourados, esgotados. O homem hoje confronta-se consigo mesmo. E a condição é a mesma de sempre: a barbárie.
abs
Eduardo Sarno
março 20, 2012 5:58 pm às 17:58
Diego D.
Eduardo, um abraço.
Curioso que hoje tive uma aula em que chegou-se à mesma conclusão sua, mas por um outro caminho.
Mostrou-se um filme feito de pedaços de outros filmes: cada um deles mostrava movimentos populares, insubordinações organizadas ou espontâneas.
Uma das conclusões que se apresentou: talvez exista hoje um “identitarismo” nos movimentos sociais. Grosso modo: se você é negro, milita contra o racismo, se é mulher pelo aborto etc. E dai talvez surja a idéia de que para ser ator historico, politico, é preciso essa identificação/esse engajamento “pessoal”, como você sugere.
O que o filme apresenta, porém, é uma outra versão: unindo tantas lutas diferentes num continuo so (às vezes usando superposição de imagens), sugere que ser ator historico, ator politico, enfim, engajar-se transcende a idéia de identificação aprioristica com grupos. No fim, parece dizer o filme, todas as lutas se equivalem, se forem lutas por liberdade, são todas uma luta so.
março 20, 2012 10:40 am às 10:40
moreno
vão sem mim que eu vou lá ter.
março 20, 2012 5:52 pm às 17:52
Diego D.
Tai, afinal não haja solidão, mas desencontro.
Abraço,
D.