_Eu sinto a tempestade que se aproxima.
Ele olhou para o céu buscando garantia, mas o dia estava claro como antes. Pensou nos profetas da fome que anunciam chuva na esperança de que Deus ouça. E imaginou que também era esse o caso.
_Está sol.
Mas ela balançou a cabeça como quem não acredita. Para amparar o silêncio, falou dos carros que passavam na rua, depois apontou um passarinho que parou em descanso antes de tomar destino incerto. Ela continuou calada, vendo nas cartas tudo que ainda não existia. A seus pés, os prédios sem gente dormiam.
_É como se eu estivesse o tempo inteiro ouvindo a Ave Maria no rádio.
Queria dar provas de um lamento contínuo. Ele suspirou buscando forças de vencer o cansaço. Fazendo cócegas na esperança de que sorrisse, disse que parasse de besteira. Ela riu mas depois buscou fazer-se mais triste.
_Eu queria construir alguma coisa que sobrevivesse à ventania.
Tatiana Mendonça escreve às sextas
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