José,
Queria que você soubesse que não é por causa da sua mãe, talvez um pouco. É mais por mim. E por você também. Isso não está tomando rumo nenhum e decidi que chegou minha hora de pegar um caminho, mesmo que agora esteja tão perdida que nem saiba se há jeito de achar, nem mesmo em vigília de sonho.
Sei que essa minha agonia de não encontrar pouso vai passar um dia, mas não é com você. Preciso que minha alegria fugida volte e agora não vejo de jeito nenhum pra onde ela foi. Estou de novo aflita de não poder ter futuro, parada no exato lugar, meus medos todos juntos multiplicando de ficar só para sempre, mas assim mesmo eu vou.
Procure aquela moça que eu não vou dizer o nome, aquela que fica piscando para você na minha frente. Sei que no fundo você imagina sua felicidade ao lado de uma loira de cabelo bem liso, mesmo que seja de farmácia e de chapinha de salão – aquilo nunca foi verdadeiro.
Você está agora balançando a cabeça como quem diz que me ama, mas o caso mesmo é que a gente gosta de cultivar sofrimentos, regar até que cresçam e tomem conta de tudo, e ficar assim igualzinho para todo o sempre. Mas isso não é jeito de viver, José.
Tatiana Mendonça escreve às sextas
5 comentários
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novembro 11, 2011 11:39 am às 11:39
Diego D.
Acho que o problema ai é que sao dois niveis de linguagem em jogo que se comunicam mas nao foram muito bem adequados um ao outro. Por um lado ha o recurso a linguagem falada, matuta, o que contribui para dar contornos ao personagem. Por outro, ha o recurso a linguagem poética, a construçao de imagens, e esse tipo de expressao nao casa com o tipo anterior.
Mas é interessante esse tema que nao esta dado mas que é o texto que constroi: a necessidade de partir que vem e revela que nao ha direçao.
novembro 11, 2011 11:49 am às 11:49
Tatiana Mendonça
a pessoa por ser pobre não pode ter poesia?
brincadeira, obrigada pelo comentário. achei isso também.
novembro 11, 2011 1:35 pm às 13:35
Ricardo Sangiovanni
Vinha vindo todo prosa dizer que adorei o jeito de falar da moça… terei chegado tarde demais?
Abs :)
novembro 15, 2011 7:37 pm às 19:37
Diego D.
Na verdade chamaram minha atençao para o obvio: é uma carta. E na carta encontram-se naturalmente o falado e o escrito. Entao fiz uma critica sem ter lido o texto com o minimo de atençao para o titulo. Retiro o que disse e me calo retumbantemente.
novembro 22, 2011 8:15 pm às 20:15
Diego D.
Estava vendo “O Fim e o Principio” e ai um senhor diz, do nada, ou como se aquilo fosse sua melhor frase: “A vida é um parafuso que so Jesus destroncha”.
E tem outro senhor que tem um jegue albino que ele chama de Lenço Branco.
Ai lembrei de sua pergunta: pobre nao pode ter poesia?