Tenho um sonho. Bobo, talvez um pouco utópico, mas é um sonho.
Daqui a umas quantas décadas, em uma cidade milhares de quilômetros distante da minha, alguém se reunirá com seus filhos e amigos e lhes contará que sente falta de um amigo que lhe ensinou que há uma palavra linda em português, palavra que não tem tradução em espanhol.
Esse alguém, que pode ser homem ou mulher, vai lhes contar que certa vez conheceu esse brasileiro e que se fizeram amigos e que desta amizade restaram boas recordações e um pouquinho de dor – não só pela falta do amigo, mas pela impossibilidade de se voltar àquele tempo. Essa pena, explicará, é a saudade.
E todos os presentes a repetirão, já com uma pontada no coração, e pensarão (ou dirão em voz baixa): “Que palavra bonita.”
E essas pessoas, tempo depois, reunidas um dia com seus seres queridos, lhes contarão que há uma palavra em português, tão linda, que exprime uma sensação de dor, de ausência e de fortuna pelas lembranças. Uma palavra intraduzível.
E assim ela se propagará e será dita por pessoas que nunca conheceram aquele brasileiro, que talvez nem saibam nenhuma outra palavra em português, só a mais bonita de todas elas: saudade.
Se isso se realizar, esse será o meu legado. Humilde, pequeno. Mas será meu, meu pequeno legado.
Ricardo Viel escreve às segundas
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