Estava tudo muito frio e a esperança era o início oficial da campanha, programada para ontem.

Acostumado com a agitação eleitoral brasileira, saí de casa preparado para carreatas, bandeiras, panfletagem, militantes e tudo mais.

Mas qual nada, nem um barulhinho.

Carro de som?

Vade retro…

A Espanha elege presidente no próximo dia 20, e a única publicidade encontrada no meu recorrido madrileño matutino foi um cartaz no metrô.

O marasmo total não é exclusivo da campanha de rua. Não noto qualquer discussão pública sobre o futuro político-administrativo do país.

Há meses já atribuem vitória tranquila dos opositores de José Luis Rodríguez Zapatero (PSOE centro-esquerda), atual presidente do governo.

Sempre me soou estranho prever com tamanha precisão uma vitória meses antes da ida às urnas.

Algum fato poderia mudar tudo, pensava.

Mas parece que aqui funciona realmente assim.

Nem o anuncio, na semana passada, do fim da violência do grupo separatista ETA, logrado pelo ministro e agora candidato de Zapatero, Alfredo Pérez Rubalcaba, parece indicar qualquer reação da centro-esquerda.

Mariano Rajoy (PP), um insosso centro-direitista, marcha para a vitória sem qualquer esforço.

Seu maior cabo eleitoral é a trágica crise econômica que afunda a Espanha em recessão e desemprego: um em cada quatro em idade ativa não têm trabalho.

E não há discussão político-ideológica a ser debatida nestes tempos em que o bolso é o ponto mais sensível do eleitor.

Vítor Rocha escreve aos sábados