Distração é a música meditativa de Gilberto Gil.
Distraídas estão as crianças que se escondem, rindo com uma sinceridade que é como se suas vidas dependessem disso – quando é a alegria que depende, e por isso talvez a vida dependa também.
Chico Buarque musicou um alarme, em Uma menina: a distração é um problema social.
Distraído é o homem parado na faixa lendo um texto em voz alta, que eu tomei por maluco, mas não era.
Tropeço não é distração; tropeços são calçadas com as vergonhas descobertas.
A distração é um fenômeno do tempo; há um filme que define onde termina a distração e onde começa a contemplação. Talvez ele se chame Spiritual voices (1995).
Distrair-se não é fingir que não se conhece o complexo; é fazer parte da paisagem.
Amar distraído é diferente de distrair-se como um ato involuntário de amor.
Manoel de Barros passou a vida atento ao desejo de envelhecer distraidamente.
E é por isso que eu detesto esse excesso de vida computadorizada que nos rouba a atenção e nos deixa sem tempo de nos distrairmos.
Diego Damasceno escreve às terças
4 comentários
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fevereiro 5, 2013 9:39 am às 9:39
Patrícia Magalhães
ia comentar de maneira poética. mas me distraí com um ad logo abaixo do texto, com uma dica sobre barriga sequinha, prometendo eliminar 5 kg de gordura abdominal de (sic) uma semana usando um truque estranho. “se distrair” poderia ser um truque, né? mas quando passa a ser truque já não é mais distração…
fevereiro 5, 2013 10:34 am às 10:34
Márcia
eu sei que virou brega citar Clarice, mas ela escreveu sobre estar distraído, algo como para que as coisas aconteçam é preciso estar distraído. Ex.: você só nota que tem barriga se fica olhando pra ela. Se estiver distraído, ela não existe, resolvido, é feliz, pronto.
fevereiro 5, 2013 2:42 pm às 14:42
Nanna
Distraídos, distraídos. Venceremos, venceremos. <3 Paulo Leminski <3
fevereiro 6, 2013 9:59 pm às 21:59
Tatiana Mendonça
adorei, especialmente a parte de fazer parte da paisagem :)