Só sei que era fim de tarde ou começo de manhã e brilhava um sol forte, mas também caía uma neve fina. Era uma alegria ouvir gente cantando na praia, um festival de flores ou sei lá o que. Muito branco rodando ao meu redor, umas crianças correndo encapotadas feito pacotinhos.
Tinha água, isso eu sei. Mas agora não consigo lembrar se eram patos, cisnes ou barcos nadando nela, só sei que todos carregavam flores. Tinha alguma coisa de celebração e eu estava feliz, não sei porque me deu essa vertigem, essa vontade de cair no chão.
Tem isso quando a gente está feliz, não tem? Dá uma vontade esquisita de cair no chão.
Tinha um cansaço também, porque hora feliz é aquela coisa que a gente trabalha um bocado para ter e nem sempre aproveita porque é a.hora.feliz. e tem que aproveitar e quando você vê já passou porque você estava trabalhando tanto para tirar outras coisas do caminho e ele estar livre quando ela chegasse. Mas eu tinha até conseguido ser feliz durante os preparativos, estava tudo bem.
Só que aí eu olhei para cima para o sol e o corpo começou a esquentar demais por baixo do casaco e quando olhei ao redor de novo a neve branca tinha virado o mar e o canto das pessoas era o mesmo gritinho dos meninos no campo de futebol. Veio um vento frio no meu rosto e foi quando veio a vertigem, meu estômago deu uns saltos e eu sentei no chão, porque chão parecia sólido.
Só me lembro disso e acordei aqui. Aqui é onde?
Camilla Costa escreve aos sábados.
1 comentário
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fevereiro 15, 2013 8:24 am às 8:24
maritza
Quando li sobre a vertigem e a felicidade, lembrei desse texto :
A Pequena Morte
Não nos provoca riso o amor quando chega ao mais profundo de sua
viagem, ao mais alto de seu vôo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca
gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e pensando bem não há
nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. Pequena morte,
chamam na França a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos,
e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena
morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce.
Eduardo Galeano
beijos!