Só sei que era fim de tarde ou começo de manhã e brilhava um sol forte, mas também caía uma neve fina. Era uma alegria ouvir gente cantando na praia, um festival de flores ou sei lá o que. Muito branco rodando ao meu redor, umas crianças correndo encapotadas feito pacotinhos.

Tinha água, isso eu sei. Mas agora não consigo lembrar se eram patos, cisnes ou barcos nadando nela, só sei que todos carregavam flores. Tinha alguma coisa de celebração e eu estava feliz, não sei porque me deu essa vertigem, essa vontade de cair no chão.

Tem isso quando a gente está feliz, não tem? Dá uma vontade esquisita de cair no chão.

Tinha um cansaço também, porque hora feliz é aquela coisa que a gente trabalha um bocado para ter e nem sempre aproveita porque é a.hora.feliz. e tem que aproveitar e quando você vê já passou porque você estava trabalhando tanto para tirar outras coisas do caminho e ele estar livre quando ela chegasse. Mas eu tinha até conseguido ser feliz durante os preparativos, estava tudo bem.

Só que aí eu olhei para cima para o sol e o corpo começou a esquentar demais por baixo do casaco e quando olhei ao redor de novo a neve branca tinha virado o mar e o canto das pessoas era o mesmo gritinho dos meninos no campo de futebol. Veio um vento frio no meu rosto e foi quando veio a vertigem, meu estômago deu uns saltos e eu sentei no chão, porque chão parecia sólido.

Só me lembro disso e acordei aqui. Aqui é onde?

Camilla Costa escreve aos sábados.