Reza a lenda [muito me agrada essa expressão] que o imortal Capistrano de Abreu teria sugerido certa feita que a constituição brasileira fosse resumida a um único parágrafo:
“Todo brasileiro deveria ter vergonha na cara”.
Isso aconteceu há muitas décadas atrás. Mas não há missiva mais retumbante, mais adequada para o atual momento. Faltando três dias para irmos às urnas – moderno cadafalso democrático – com essa malfadada impressão de quem escolherá o próximo carrasco, somos importunados com a notícia que a SENHORA DONA FIFA estaria predisposta a proibir o consumo dos nossos suculentos bolinhos de feijão fradinho durante sua regência na Pindorama – período que Blatter governará a Terra Brasilis e ficará para a história reconhecido, tão somente, como COPA DO MUNDO.
Agora sim, fomos surpreendidos novamente.
Não basta nos aviltar com suas modernas e higienizadas ARENAS ESPORTIVAS, Dona FIFA? Não basta escravizar os VOLUN-OTÁRIOS que trabalharão em troca talvez de um algum BIG MAC, enquanto a SENHORA embolsa milhões em patrocínios de diversas marcas, inclusive daquelas cervejas aguadas que virão MADE IN USA? Não basta RIDICULARIZAR um dos mais diletos animais da nossa fauna inventando nomes bisonhos quando poderia simplesmente chamá-lo de TATU?
Aqui na terra do acarajé, tatu caminha dentro Dona Fifa!
Escuta bem o que eu te digo DONA FIFA, sei que aqui parece uma terra mangueada, mas até esculhambação tem limite. Mesmo quando a gente entrega a chave da cidade no período MOMESCO, algumas tradições não podem ser profanadas. O consumo desmedido e irrestrito do nosso àkàrà é uma delas. Comida sagrada é hierarquicamente superior a qualquer soberania ou contrato comercial.
Façamos um trato: Tu não bole no meu acarajé e eu te deixo vender coca-cola em paz. Essa é uma das mais perfeitas combinações que existe na culinária mundial. É uma síntese do que deve acontecer nessa Copa do Mundo. A união da tradição gastronômica secular com o xarope gaseificado multinacional de maior sucesso do mundo. Sabor regional e arroto cosmopolita. Deixe os gringos experimentarem o nosso rango, sentirem o sabor da nossa terra. Aí sim a festa será completa. Não mexe no tabuleiro da baiana não, que é o espaço mais deliciosamente democrático da nossa Bahia. Onde a gente faz valer o nosso gosto.
O meu, aliás, é sem caruru e com bastante pimenta.
Alex Rolim sofre com abstinência de acarajé qualquer dia da semana, inclusive às quintas-feiras
3 comentários
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outubro 4, 2012 8:47 pm às 20:47
Lionel Leal
Cheguei aqui por acaso, trazido por causa desse barata-voa com o acarajé, e já favoritei. Excelente texto, parabéns.
outubro 7, 2012 5:19 pm às 17:19
Alex Rolim
Que bom Lionel. Aproveite a casualidade e leia os textos do arquivo, tem coisa boa já publicada. Abraço.
outubro 11, 2012 12:03 pm às 12:03
A arte culinária na Bahia « O Purgatório
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