Quando tive que tirar a máscara, achei a estrela dentro do olho que vinha. Dentro do olho, a maré. Por um átimo, frente às estrelas, soube que Deus era duas pupilas que ele trazia no buraco dos olhos, suspenso de tanta beleza, eu menina perdida jogada trêmula, fêmea no frio. Quando pude acalmar mais uma respiração no peito pesado dei de mim mais do que sabia que era eu, e o peso de estar ali converteu-se- era hora de estender a mão, derramar a alma e gritar com a pele. Se eu pudesse, selava o riso daquele ali em frente com a minha boca sobre a testa, sobre o mamilo, sobre o queixo, seria derretimento. E fui. Desfigurada em dois segundos, sombra do que era, me virei em sol. Balão caindo na minha mão, fogo em desatino, rodopio para além. Mão estendida e um mundo em bandeja, libertação em amarelo, sol e mais sol, boca de pêssego, pele de algodão. Fui música, mulher em escala de dó, clave de sol, Mozart, Beethoven, ópera, opereta, menininha de portão, espera por naufragar, resgate de mim mesma. Amor era os olhos dele. Ao tirar a máscara me tornei nudez.
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