Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam
José Saramago em “A Viagem do Elefante”
Acabo de me mudar, de novo. Lisboa é minha oitava cidade diferente. Tentei pensar na quantidade de casas em que morei, mas desisti. Com certeza são mais de vinte.
Outra vez fazer as malas, outra vez jogar fora o que não serve (e às vezes nunca serviu), outra vez fazer com que a vida se reduza a 50kg de peso.
Para mim, mudar é, também, fazer um balanço da vida. Pensar no que se deixa e no que se espera encontrar. Na grande maioria das vezes, me mudei porque quis, o que fez com que, creio eu, minhas despedidas fossem menos traumáticas e minhas chegadas cheias de esperanças e expectativas.
Gosto de mudar, e a sensação de descobrir uma nova morada, de pouco a pouco sentir que passei de turista a local – enfim, fazer parte da paisagem-, me faz sentir vivo. Mas talvez fosse o momento de se perguntar o por quê de tantas idas e vindas.
Há quem passe a vida toda morando no mesmo bairro, alguns na mesma casa, enquanto há quem, como eu, sente verdadeiro comichão quando completa o segundo ano de vida em um lugar.
Em espanhol há uma palavra que exprime essa inexistência de raízes que atam alguém a algo. É o desarraigo, e fala-se em um sentimento ou sensação que impossibilita que uma pessoa se sinta ‘de certa parte’, crie laços com seu entorno. Esse é, hoje em dia, meu pesadelo: sentir-me sempre um estranho, um forasteiro que passará a vida tentando encontrar sua casa. Mas prefiro pensar que não é assim, que minha casa são muitas e que vou deixando algo por cada lugar que passo; e que quando chegar a hora, sem esforço e sem pressa, me fixarei à uma terra e poderei por fim dizer: fico por aqui.
Ricardo Viel escreve às segundas
1 comentário
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outubro 1, 2012 6:30 pm às 18:30
Dani Fernandes
Sabe a expressão cidadão do mundo? Tá aí, combina com vc… E pode acreditar que nunca será um estranho, mas sim parte da paisagem… Sorte e sucesso na nova jornada! Bjs