Alguém já reparou: nos filmes de Hitchcock, as cenas finais se passam quase sempre em locais públicos ou eventos coletivos. A verdade – o assassino, o culpado – além de revelada, precisa ser vista, reconhecida por todos.

Daí os desfechos no teatro, numa festa, no prédio da ONU.

É uma maneira interessante de se aproximar desse conceito tão maltratado quanto escorregadio.

Falando das conveções do cinema, Hitch falava também daquelas que fundam as sociedades. Não bastam para o progresso as Verdades, partidárias e pretensamente absolutas; também não vamos muito longe na base do cada um com sua verdade. Nem tudo é opinião.

Por acreditar nisso, não compro o discurso dos pichadores brasileiros convidados para Bienal de Berlim que sujaram de tinta uma igreja da cidade, onde deveriam dar um workshop.

Falaram em “transgressão” e “liberdade”. Dizem ser contra tudo que é estabelecido: de organizações civis e religiosas a instâncias de governos, tudo seria criticável.

Parece sensato. Mas suas ações não o confirmam. Tudo o que traduzem é um arbitrarismo autoritário, no qual o pichador faz o que quer, onde quer e não deve satisfações.

Nesse aspecto, esses pichadores se aproximam da geração atual de humoristas: se dizem heróis e vítimas de uma sociedade conservadora. Refugiam-se sempre no discurso da incompreensão. E agem apenas sob uma razão: a própria.

Pintando paredes ou contando piadas, querem ser ouvidos sem ouvir, fazer do mundo um grande playground particular. Eles inventam as brincadeiras, ditam as regras do jogo. Como crianças.

Diego Damasceno escreve às terças