* A equipe de O Purgatório está de férias até o dia 8 de janeiro. Até lá, republicaremos diariamente uma seleção dos melhores textos de nossos colunistas ao longo deste ano. Bom fim de ano a todos e até 2012!
No fundo passava um rio. Fino, porém rio.
Da beira da varanda da casa vermelha não se enxergava o início dele, via-se somente o corpo, curso de pequeno volume, pouco barulhento. Confidente.
Findava na queda do cipó, onde este se amarrava nas nuvens.
Nas primeiras horas da manhã teimava em fazer risada.
Quando chorava, formava a alegria das margens e a tristeza das formigas.
Nunca se soube o porquê de se chamar Capube.
O rio vinha pra dentro de casa pelas mãos de vovó, quer pelo banho no chão da casa, quer pelo bordado.
Quando saía do meu canto, teimava em levá-lo no bolso – moedas de água.
Era verde de todo lado e transparente no que fosse dentro.
Era reflexo, como quando olhei de mim e achei você. E foi o meu segredo.
À tarde era hora de mimo com os corpos: nunca rejeitava o que quer que viesse do nosso movimento.
Abraçou-nos como o céu da boca abraça um pedaço de jambo.
Que alguém tinha o Capube por lá por cima ou lá por baixo, nunca pudemos dizer de verdade.
Como vinha sempre e ia sempre e nunca nos deixava, ele era nosso coubesse ou não dentro da cerca.
Virava noite com a noite. E ninguém se arriscava. Não que fosse traiçoeiro, mas era o momento dele e ai de quem não respeitasse.
No fundo de casa passa um rio chamado Capube.
E cada vez mais ele é um de nós, que já ouvi meu pai dizer “se ele morrer morremos todos”.
A casa é vermelha, o campo nem é tão vasto.
Mas temos o Capube dentro do limite de nós. E isso já é a grande-certeza-de-que-não-ficaremos-apartados-da-beleza.
Carmezim escreve às quartas
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