por Joana Brandão
Não faltam histórias sobre ligações ocultas entre o ocidente e o oriente. Os Hopis são os irmãos peles-vermelhas dos budistas tibetanos que os séculos fizeram reencontrar. E talvez os portugueses não tenham sido tão ineptos assim em chamar de índios Iracema e Poti. Antes deles o santo budista Nagarjuna lá nos idos anos de Cristo voou sobre oceanos para visitar as terras de cá e, na falta de bandeiras, também deixou nomes – maias para homenagear a mãe de Buda, Maya, e Guatemala em saudação ao próprio Gautama. Os maias mesmo são os náufragos de Atlântida, e os índios são sim indianos, que vieram para as Américas em busca do ouro rubro do ocidente – a pimenta malagueta. Entre tantas, há ainda mais uma ligação irreplicável entre as duas bandas desta laranja grande e aguada que é o planeta Terra. As bandeiras de oração que colorem tanto as montanhas frias do Nepal e Tibete quanto os morros verdosos de cá.
Elas enfeitam os mosteiros nepalenses, indianos, o gelo dos Himalaias e têm preces impressas em si que cada lufada de vento faz o favor de levar aonde se destina. E marcam os caminhos dos viajantes. Se um dia você se pegar andando pelos vales e picos áridos dos Himalaias, saiba que ao ver as bandeiras de oração, elas te dizem na linguagem muda das cores e na dança dos panos ao vento que um companheiro passou por ali e deixou uma mensagem de paz. Elas humanizam o deserto desabitado, a natureza, as paisagens inóspitas, falam do amor por trás da austeridade.
Olhe um desses varais, pendurados entre um galho e um poste, nessas casas quase-urbanas, feitas de cimento suado e tijolos emprestados, que se penduram nos morros escorregadios das nossas cidades. Eles não embelezam o deserto? A cor vermelha da camisa do menino, o pano de prato meio que encardido, as fraldas que pertenceram a três gerações de mancebos fortes e febris, o vento que flameja lembrando da tempestade. Não embelezam o azul claro da parede de tinta d’água, o teto cinza de Eternit, e o asfalto preto que sustenta platinados reluzentes? Sem falar no cheiro de roupa nova, de frescor de sabão em pó na segunda-feira.
As bandeiras de oração citadinas não são menos vigorosas que suas comadres orientais: falam do bicho-homem dali, daquela quase-casa, quase-barraco, lembram que alguém veste vestido nos dias de verão, e que um menino corre atrás da bola. Que ali talvez tenha um altar no cantinho da sala, uma cruz na parede, ou que a rádio sintoniza na AM às 6 da manhã antes do café. As preces que carrega o vento ao sacolejar o varal em dias de tempestade, só eles e o vento hão de saber.
Joana Brandão é a convidada especial desta terça-feira
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