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Por uma contradição da natureza, o animal que concentra todos os atributos da racionalidade é também aquele mais naturalmente inapto a fazer praticamente tudo – desde amarrar os sapatos até se relacionar com o próximo.
Os livros já escritos para ensinar o homem a se comportar, incluindo naturalmente as versões religiosas como a Bíblia, o Alcorão, o Mahabharata, o Bagavadguitá, o Torá, o Zend Avesta e as versões profanas, enchem bibliotecas.
Um deles, um pouco na contramão , mas contendo doses de verdade e humor, apareceu recentemente no meu acervo da Livraria Graúna: “Como Perder Amigos e Aborrecer Pessoas”, de Irving Tressler, publicado em 1946 pela Editora Assunção e já na sua 27 ª edição, mas escrito em 1941.
Aborrecido consigo mesmo, Tressler suicidou-se em 1944, aos 35 anos de idade.
O Sr. Irving apresentava-se como “Presidente do Instituto Irving D. Tressler de Relações Humanas Até Certo Ponto e Como Conservá-las Nesse Ponto”. O livro foi “dedicado a um homem que não tinha necessidade da sua leitura: Adolf Hitler”.
O viés do livro vai um pouco de encontro à malandragem do brasileiro e a arte de sacanear o próximo.
É uma espécie de auto-ajuda pelo lado da auto-defesa: provoca para se sentir superior, mas também evita o ataque de um tipo virótico que é o chato.
Sobre este último, em 1962 Guilherme Figueiredo escreveu o famoso “Tratado Geral dos Chatos”. Sendo irmão do General e Ditador João Batista Figueiredo, teve certamente inspiração doméstica.
Sobre a inadaptabilidade do ser humano, encontramos uma referencia numérica: no site da Estante Virtual existem nada menos que 5.460 títulos de livros que iniciam “Como Fazer…”, que vai desde a como fazer um filme de amor até como vencer na vida sem fazer força. Este último certamente escrito por um banqueiro.
Até o bispo Macedo comparece, com seu opúsculo ” Como fazer a obra de Deu$”.
Enfim, na Babel do que fazer, como fazer e porque que fazer, muitos não se furtam de dar a sua opinião, sugestão e experiência. Mas já se lá vão 20 séculos, e o homem continua perdido, perplexo, fazendo na maioria das vezes o que não deve ser feito.
Eduardo Sarno é o convidado especial deste domingo. O texto desta semana de Ricardo Sangiovanni, titular dos domingos, foi publicado excepcionalmente na sexta-feira.