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Atravessa o rio saltando de pedra em pedra. Até a outra margem são cinco ou seis ou mais. Tem medo de escorregar. Se cair não vai se afogar, vai só fazer com que a turma da escola ria dela.
O rio não passa da canela, nem mesmo a de uma criança. Perto do fim ela sorri, feliz com sua recém-descoberta habilidade de saltar riachos. Um menino quer ajudá-la para que não corra nenhum risco de se molhar, mas ela recusa porque é independente e pode tranquilamente atravessar o que quer que seja. Talvez o menino tenha dado a mão a uma outra garota e ela agora precise inventar essa história de independência.
De todo modo chega sã, seca, salva.
Era um dia feliz, a menina está feliz, talvez esteja se esforçando para estar feliz, mas isso quase não se nota. Ela quase não nota. Prometeu que ia ter amigos como antes, e que eles iam gostar dela, que não se sentiria mais mortificada. Seria pacífica como uma menina com um vestido branco atravessando um riacho. Foi tudo assim, mas diferente.
Em todos os anos que se seguem até a sua morte a menina já mulher crescida lembra desse dia e fecha os olhos com força, porque além de temer o presente e o futuro, está sempre voltando a esse riacho e em todas as vezes cai e riem dela, que quer chorar de vergonha, mas sorri como se estivesse fazendo graça.
Tatiana Mendonça escreve às sextas